A liberdade não cabe no poema
VVAA
Seleção dos poemas por Oriana Alves
Boca, Município da Sertã
A coletânea que Oriana Alves selecionou e organizou em livro e áudio tem como tema a liberdade. Quando se assinala e comemora o cinquentenário do 25 de Abril, o presente volume oferece ao leitor 50 poemas de diversas geografias, maioritariamente portugueses, do século XX e do século XXI. Se ali se reencontram poemas que já integram a imagética oficial da revolução dos cravos, da resistência ao fascismo e da ideologia revolucionária dos anos seguintes, há tantos outros que surpreendem por não constarem deste Olimpo.
Para além de poemas supostamente menos óbvios quando se fala de liberdade, como “Body art” de Adília Lopes, “[o dia tem 24 horas]” de Alberto Pimenta ou “Prece no Mediterrâneo” de Ana Luísa Amaral, a antologia não abdica de figuras desconhecidas ou periféricas, nem de vozes mais jovens. Margarida Vale de Gato, Raquel Lima ou André Tecedeiro são três autores que integram a geração contemporânea de poetas portugueses.
Oriana Alves trouxe ainda para o volume outras vozes, da Palestina e do Irão atuais, do Brasil, de Moçambique, da Alemanha resistente ao nazismo, da Índia ou da Turquia do início de 1900.
Os tópicos vão da repressão política à identidade, da discriminação às desigualdades sociais, da exploração laboral ao elogio da liberdade e da esperança. A diversidade de vozes faz desta coletânea uma representação aberta da liberdade, que convoca o leitor para contextos próximos e distantes, para a empatia e a curiosidade.
Cumprindo a missão da editora BOCA, no final de cada poema está um código QR, para que este possa ser escutado.
Quem dá voz aos poemas são 28 crianças e jovens, de Lisboa da Sertã e do Porto. Não houve castings e a leitura em voz alta não foi preparada num ambiente formal. A intenção foi, segundo Oriana Alves, dar espaço aos leitores para se apropriarem dos poemas e para os dizerem de acordo com a sua interpretação. Essa liberdade ressoa nas leituras, nos tons, nos acentos.
Também as ilustrações de Mantraste ecoam a viagem do presente para o passado desta ideia de liberdade enquanto valor e ação. Ali também reconhecemos a emigração, o racismo e a sua genética, a afirmação da mulher, a pobreza, a guerra colonial, a esperança no futuro, o direito à manifestação, a liberdade a manifestar-se no corpo e na voz.
A presente colectânea não se esgota no reconhecimento de símbolos históricos, problematiza a ética da liberdade a partir tanto do passado como do presente e define um compromisso.