Crescer
Laëtitia Bourget
Emmanuelle Houdart
Orfeu Negro
Tradução de Maria Afonso
Crescer poderia ser uma elegia à vida, naquilo que esta tem de reflexivo e poético. A efemeridade da vida, a vulnerabilidade, a melancolia estão presentes. Porém, também está a beleza da descoberta do mundo, a curiosidade, a dedicação, o amor, a independência. Não há lamento, há lucidez e harmonia. As palavras, parcas, ilustram a composição poética de cada ilustração. Uma mulher afirma a sua identidade ao longo do tempo, nascendo, crescendo, observando, agindo, transformando-se, esquecendo, partindo definitivamente. O pulsar do álbum reside na honestidade profunda desta afirmação da existência, contida nas palavras e expansiva na imagem. Apesar da contenção narrativa, este elogio da vida não se furta à tristeza, à dúvida, à solidão.
A simbiose entre a mulher (desde que nasce) e a natureza cria um sentido orgânico muito forte, assente num ideário onírico e folclórico. Cada imagem é um mundo de cor, elementos e detalhes, combinados em figuras mágicas, frequentemente aglutinadoras de aves, folhas, troncos, raízes e padrões vibrantes, objetos do quotidiano, geometrias. A mulher integra estes elementos ou é por eles acolhida, demonstrando força ou fragilidade num quadro expressionista de beleza.
A leitura das ilustrações não se apresenta simples na relação entre referente e símbolo. A riqueza e densidade do livro permite que o leitor o leia à luz do feminismo, da ecologia, até contra o capitalismo. Poderá igualmente ser lido em diálogo com o folclore e a fantasia da tradição oral. O expressionismo e até o surrealismo, enquanto elevação do onírico, do emocional e do subjetivo, também podem suportar interpretações.
Contudo, apesar da teia de conceitos, o livro apela a uma relação pouco mediada, de tal forma causa impacto, estranheza, espanto. E oferece espaços vazios para o leitor respirar, entre a emoção que provoca. É uma experiência de leitura muito