Não ser um rebanho
José Saramago dizia que a palavra mais poderosa que existia no dicionário continha apenas três letras, era a palavra não. “O não é uma revolução”, defendia o escritor. Neste início de ano, para boa parte do mundo, é comum que se perguntem pelos propósitos e desejos para os próximos 365, neste caso 366, dias.
Da nossa parte, desejamos que cidadãos e cidadãs do mundo sejam capazes de dizer mais vezes a palavra não, para que o mundo não caminhe na direção que até agora tem apontada. Dizer não às guerras, dizer não à exploração e à exclusão de grande parte da humanidade, dizer não à ganância e ao consumismo desenfreado, dizer não à destruição ambiental e ao processo de desumanização em curso.
«Sempre achei que, para além da antropofagia directa, existe uma outra forma de devorar o próximo: a exploração do homem pelo homem. Neste sentido, a história da humanidade é a história da antropofagia», disse José Saramago em 2001, numa entrevista a uma revista argentina. E completou: «Isto obriga-nos a um compromisso activo. Em primeiro lugar, temos a obrigação de não permitir que nos ceguem, pois se nos cegarem, comportar-nos-emos ainda mais do que agora como membros de um rebanho, um rebanho que avança para o suicídio».
Em 2024, que não nos comportemos como um rebanho, que sejamos capazes de dizer não e denunciar a cegueira coletiva.