Um cigano de bata, com orgulho
Israel Paródia será o primeiro médico português a afirmar sem receios a sua pertença à comunidade cigana.
O Dia Internacional das Pessoas Ciganas assinalou-se no passado dia 8 de Abril. No jornal Mensagem, a republicação de uma entrevista realizada há dois anos voltou a trazer para a manchete o futuro médico Israel Paródia, curso de medicina quase concluído e uma vontade determinada de afirmar as suas raízes com orgulho e contribuir para o fim da discriminação de que as pessoas ciganas continuam a ser alvo: «Um cigano de bata branca parece não ser imagem comum nem na cabeça dos mais novos. E isso tem explicação nos históricos anos de perseguição e discriminação que semeiam a história desta comunidade em Portugal e no mundo. Israel frequenta agora o terceiro ano de seis de Medicina, na NOVA Medical School (Faculdade de Ciências Médicas), em Lisboa. E deverá ser o primeiro português em medicina a dizer-se cigano. Embora possa não ser o primeiro desta comunidade a sê-lo realmente. Quem o diz é Bruno Gonçalves, dinamizador e mediador da comunidade cigana em Portugal. “Sabemos que pode haver mais. Mas, por receio de represálias, escolheram esconder. E eu, mesmo que tenha pena, percebo. Na hora de conseguir emprego, isso pode ser uma barreira, um muro, infelizmente”, diz.»
De acordo com um estudo nacional sobre as comunidades ciganas na educação, realizado em 2018, o número de jovens de etnia cigana nas escolas duplicou em 19 anos, passando de 5921 para 11018 (no ano lectivo de 2016/17, cujos dados serviram de base para o estudo divulgado pelo Ministério da Educação). São números animadores, mas ainda longe de uma igualdade plena, objectivo que tantas vezes também esbarra contra vários preconceitos estruturais perante as pessoas ciganas. Para Israel Paródia, são números que confirmam que o caminho a percorrer passa precisamente pelo acesso generalizado ao ensino e pela quebra de preconceitos que a educação permite: «“Começa tudo na educação.” A de todos, acredita o jovem futuro médico. “Se estivermos bem formados, estaremos mais perto de derrubar preconceitos.” E os destinatários do preconceito mais perto de estudar e, mais tarde, de ter lugar no mercado de trabalho.»