As muitas Amélias de Amélia Muge
O novo disco de Amélia Muge volta a mergulhar no longo repertório de experiências, conhecimentos e desafios de uma compositora e intérprete cujo trabalho importa acompanhar.
Numa entrevista ao Rimas e Batidas, Amélia Muge fala a Rui Miguel Abreu sobre o seu mais recente trabalho, Amélias, e sobre o processo que a levou a gravar este disco (em plena pandemia e com as restrições que daí decorreram) e a pensá-lo como um exercício contínuo, um trabalho em construção cujo carácter ensaístico perdurará nos concertos que dele nascerem.
Para além do disco, Amélia Muge fala sobre outros temas, nomeadamente a nossa dificuldade colectiva em lidar com a passagem do tempo, como se juventude e originalidade fossem sinónimos exclusivos, e os impedimentos à criação que daí surgem, prejudicando-nos a todos: «Enquanto temos capacidade e uma pessoa dá provas de que continua a ter, de facto, um universo em que é possível experimentar coisas novas — coisas que a gente olha à volta e vê que ainda não existe. Acho que seria natural que existisse esse financiamento. Os jovens não têm culpa nenhuma, mas existe esta coisa do “vamos para a novidade! Vamos apostar nos novos, porque os velhos já deram o que tinham a dar e nem deram grande coisa”. Há uma espécie de fobia. Os mais velhos, quando aparecem, é dentro daquela imagem… Por norma é para ser homenageado. Isto dava muita conversa. Em termos práticos, eu não vejo esse apoio a quem está a fazer experiências destas. Temos um apoio fabuloso da Sociedade Portuguesa de Autores. Se não fosse a SPA, não tinha feito este disco, como muitas outras pessoas [não teriam feito]. Mas é um apoio específico para a criação dos discos. Desse tipo de apoios vamos conseguindo ter. Dava jeito ter um pai rico porque não se fazem fortunas com o tipo de trabalho que eu faço [risos].»