Toi, toi, toi
Catarina Sobral
Orfeu Negro
Catarina Sobral tem vindo a tornar-se uma autora bissexta. Passaram quatro anos desde que Impossível foi editado pela Orfeu Negro. Depois de ter pensado, ilustrado e escrito um livro informativo, havia uma certa expectativa sobre a proposta seguinte da autora. E eis que surge uma narrativa sobre a criação de um espetáculo por um grupo de crianças.
Com o mesmo sentido lúdico que confere leveza e sentido de humor a outros álbuns, Catarina Sobral expõe um grupo de cinco amigos às agruras da discórdia. Passo a passo, o entusiasmo inicial dá lugar à dúvida sobre a intenção do outro, seguem-se as críticas e o desnorte total, em que as partes nada percebem do todo que se pretende criar.
O mais interessante da narrativa reside precisamente nesse ensaio de frustração e desorientação inerente à inexperiência e ao verdadeiro trabalho de grupo, em que urge que cada um se ponha no lugar do outro.
O grupo não desiste, apesar da desilusão e decide trocar de papéis. Experimentar a intenção e as ferramentas alheias obriga a que todos se vejam de outra forma. E, apesar de não se explorar mais detalhadamente esse momento, a mensagem passa com clareza. Sobre o espetáculo, propriamente, nada. Conhecemos os diversos elementos que o compõem: texto, figurinos, música, cenário, assistência técnica de luz e som.
No final há uma surpresa bem humorada que deixa em aberto tudo o que terá acontecido em palco e que cada leitor poderá recriar a seu bel-prazer.
O álbum é competente mas ressoa incompleto. Parece que algo fica em suspenso sem que haja para isso qualquer razão estrutural ou intenção retórica. Não é que se consiga apontar um momento em falta mas globalmente há uma superficialidade na composição das personagens e da própria narrativa. A ilustração preenche as páginas com elementos dos espaços dando uma noção do contexto. Porém, é justamente esse contexto que pouco reflete ou acrescenta ao texto. Os elementos compõem quadros coerentes com a expressividade das personagens mas não lhes conferem mais densidade relacional, no âmbito dos conflitos que estão a viver.
Nesse sentido, o álbum eleva-se esteticamente mas apresenta-se mais pobre em termos narrativos.