Não dar espaço nem voz a quem ameaça e discrimina
Escritor brasileiro recebe ameaças de morte e ergue-se um movimento de solidariedade em seu favor.
Vencedor do Prémio Jabuti 2021 com o livro O Avesso da Pele (Companhia das Letras), romance onde a discriminação racial é um tema central, o escritor brasileiro Jeferson Tenório foi anonimamente ameaçado de morte através das suas redes sociais por causa de uma palestra agendada para uma escola de Salvador, na Bahia. No jornal Folha de São Paulo, a jornalista Fernanda Canofre escreve sobre o caso: «Tenório comunicou a editora Companhia das Letras e a escola onde o evento seria realizado, a Land School, que oferece ensino bilingue, sobre as mensagens. A palestra acabou sendo realizada em formato online por questão de segurança, mesmo com a presença dele na capital baiana.»
Um dos compromissos agendados por Jeferson Tenório em Salvador, para além da palestra que terá estado na origem das ameaças, foi um encontro com Itamar Vieira Junior, autor do romance Torto Arado, um livro onde a questão racial e a discriminação são igualmente um tema importante. Na sequência desse encontro, Jeferson Tenório disse à Folha de São Paulo o seguinte: «Tornar público é mostrar para a sociedade que também estamos de olho no que essas pessoas racistas, fascistas estão fazendo. Há um grande custo, essa exposição pessoal não é nada agradável. Eu queria estar falando de literatura, mas estou falando de ameaça de morte. O problema se tornou maior e não tive como abafar isso.»
O caso está agora a ser investigado pelas autoridades policiais brasileiras. A editora Companhia das Letras solidarizou-se imediatamente com o autor, num comunicado divulgado nas suas páginas: «Repudiamos os ataques e ameaças desferidos contra o autor e nos opomos, assim, a qualquer ato violento, opressivo e antidemocrático que se imponha também no ambiente digital. As medidas judiciais já estão sendo tomadas.» E num movimento que continuará a crescer, mais de duas centenas de escritores, jornalistas, cientistas e artistas, organizados num grupo chamado Literatura e Liberdade, afirmaram publicamente a sua solidariedade com Jeferson Tenório, afirmando igualmente a necessidade de resistir coletivamente a situações semelhantes: «O momento de ataque sistemático pelo qual passam as artes, a universidade, a ciência e toda fruição intelectual brasileira exige posição enérgica e duradoura na defesa da vida e da liberdade de expressão.»