Voltar a ler Carolina de Jesus
Dois inéditos de Carolina de Jesus convocam a leitura da obra da autora e sublinham a sua actualidade.
A mais recente edição da revista brasileira Quatro Cinco Um traz em destaque a escritora Carolina de Jesus, no momento em que se publicam novos inéditos da sua produção literária.
Um dossier dedicado à autora de Quarto de Despejo percorre a sua biografia e a recepção da sua obra ao longo do tempo, focando-se no momento da publicação do primeiro livro. No texto de Yasmin Santos, «A Arte de Carolina», lê-se: «No prefácio de Quarto de despejo, o jornalista Audálio Dantas conta que descobriu a escritora enquanto fazia uma reportagem na favela do Canindé, em São Paulo, em 1958. Proponho, no entanto, o inverso: foi Carolina quem descobriu Audálio e aproveitou o encontro para apresentar seus escritos.» E, mais adiante: «A novidade não era necessariamente o tema — a fome ou a favela. Nos anos 30, Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Rachel de Queiroz escreveram sobre a seca e a fome. Mas não havia alguém de dentro da miséria escrevendo sobre a miséria. Carolina dá humanidade à favela. Há uma longa genealogia entre os movimentos literários que aconteceram no Brasil nas últimas décadas, como a explosão dos slams e da literatura periférica, com o universo caroliniano.» São dois pontos de partida fundamentais para uma leitura da obra de Carolina de Jesus e da sua recepção que não seja condicionada pelo mercado, pela medição do sucesso com a bitola da fama e, sobretudo, pela visão “descobridora” que parece colocar a criadora fora do ângulo relevante.
A este primeiro texto juntam-se outros, de Tom Farias e Stephanie Borges.
→ Quatro Cinco Um – A arte de Carolina