Redescobrir Tina Modotti
É uma das fotógrafas a quem devemos o registo visual do século XX. Tina Modotti morreu há 80 anos e o mundo ainda não olhou para todas as imagens que a fotógrafa nos deixou como legado.
No início deste ano, a 5 de Janeiro, passaram oito décadas sobre a morte de Tina Modotti, a fotógrafa e militante comunista que passou por diferentes países e neles terá registado dezenas de imagens. No jornal espanhol El Diário, Luis de la Cruz dedica um texto aos anos em que a fotógrafa viveu em Espanha, durante os anos da Guerra Civil. Ali, teve um papel importante no hospital de milicianos de Cuatro Caminos, em Madrid, e chegou a cuidar da famosa Pasionaria, Dolores Ibarúrri, que terá sido responsável pelo imortal No Pasarán!
Nascida em Itália, em 1896, Tina Modotti emigrou para os Estados Unidos da América no início do século XX e ali trabalhou na indústria têxtil. Casada com o poeta Roubaix de L’Abrie Richey, teve uma passagem por Hollywood como actriz e modelo fotográfica. Mais tarde, trocou de lado no que à lente diz respeito e começou a aprender fotografia com Edward Weston, reforçando os conhecimentos que trazia da infância e do seu tio, o fotógrafo Pietro Mondini, para não mais parar.
Dos Estados Unidos segue para o México, onde inicia a sua militância comunista, e depois para a Europa, onde passa por Berlim e Moscovo antes de chegar à Espanha dividida pela guerra. Graças a diferentes investigações entretanto reunidas, o jornalista traça o percurso possível de Modotti por Madrid, destacando o seu trabalho como enfermeira e a sua participação na guerra ao lado dos Republicanos. Com Madrid à beira de cair nas mãos das milícias fascistas, a fotógrafa acompanha a mudança do governo provisório para Valência e é aí que passa o resto do seu tempo espanhol, dedicando-se à realização da revista Ayuda e à edição, com a publicação de Vientos del pueblo, de Miguel Hernández (Ediciones del Socorro Rojo), ilustrado com fotografias não assinadas mas que serão, provavelmente, da própria Tina Modotti.
De regresso ao México, continua a sua actividade política na Alianza Antifascista Giuseppe Garibaldi, acabando por morrer em 1942, com uma paragem cardíaca. Será preciso esperar algumas décadas para o seu trabalho fotográfico começar a ser conhecido e estudado. Quando isso aconteceu, já nos anos 70, revelou-se ao mundo uma obra essencial para conhecer o século XX. E apesar disso, de acordo com o artigo de Luis de la Cruz, ainda haverá muito para descobrir por entre as imagens fotográfica que Modotti deixou, muitas delas não assinadas, bem como na sua biografia, representativa de uma globalização da solidariedade e da luta anti-fascista ao longo da primeira metade do século passado.