Piratas de livros e revolução
No Brasil, um livro do historiador norte-americano Robert Darnton confirma a importância do comércio clandestino de livros para a Europa revolucionária do século XVIII.
Na revista brasileira Outras Palavras, Guilherme Arruda assina uma recensão sobre o livro Pirataria e publicação – o comércio de livros na era do Iluminismo, do historiador norte-americano Robert Darnton, recentemente publicado no Brasil pela Editora Unesp. Nesse livro, Darnton analisa o comércio clandestino de livros na Europa do século XVIII, concluindo que esta pirataria livresca teve um imenso contributo para a disseminação das ideias anti-absolutistas e, consequentemente, para os movimentos sociais e políticos que culminaram na Revolução Francesa.
Diz Guilherme Arruda: «O pesquisador chega à impressionante estimativa de que mais da metade dos livros vendidos entre 1750 e 1789 na França foram pirateados. O dado demonstra a consolidação desse segmento da indústria editorial e sua aceitação pelo público leitor. Só com as editoras piratas e seus livreiros aliados é que se podia acessar a literatura proibida pela monarquia (objeto de estudos mais aprofundados em outro trabalho de Darnton), muito procurada em todas as suas vertentes, dos livros pornográficos aos panfletos utópicos, das sátiras anônimas da vida dos poderosos às obras filosóficas que gestavam um novo mundo por vir.»
A partir das conclusões do historiador norte-americano, o autor do texto propõe alguma reflexão sobre a actual pirataria de livros, colocando a questão sobre o seu potencial disseminador de ideias e conhecimento, nomeadamente em espaços geográficos onde essas ideias e conhecimento são proibidos ou pouco favorecidos pelos governos, e isto sem prejuízo das leis de protecção dos direitos de autor, naturalmente quebradas sempre que um livro é pirateado, nomeadamente na internet. Material para reflexão em tempos de circulação intensa de conteúdos e de comércio bibliográfico regulamentado ao detalhe.