
Pelo contrário
Rui Correia, António F. Nabais
Hélio Falcão
Nuvem de Letras
O subtítulo do livro é um apelo, um desafio, um convite: “Anda debater, tu debates bem”. Não é seguro que muitos dos adolescentes, potenciais leitores da obra, conheçam a origem do trocadilho que está na origem desta interpelação, mas que funciona, funciona. O livro propõe temas para debater, introduzindo a ideia de debate como encontro de ideias e alargamento de conhecimento, e não como um duelo, uma luta, uma batalha onde, invariavelmente há um vencedor e um vencido. Para além desta tese, coadjuvada por argumentos, a introdução conta também com a enunciação de um conjunto de princípios que devem orientar a conversa, destacando o respeito pelos outros e a veracidade e credibilidade da informação.

Em seguida, o leitor pode escolher entre cinquenta temas, aqueles sobre os quais lhe interessa ter informação. Cada tema conta com duas páginas de argumentos, com a particularidade de uma ser a favor e a outra contra. Graficamente, a opção confirma esta dicotomia: a página com argumentos favoráveis tem fundo branco e texto a preto, a página com argumentos desfavoráveis tem fundo negro e texto a branco. Ainda, os textos estão invertidos, pelo que o leitor tem de virar o livro de pernas para o ar quando muda de perspetiva.
Aborto, alterações climáticas, colonialismo e perdão, defesa da cultura, depilação e naturalismo, ditadura e democracia, humor e limites, imigração, inteligência artificial, jardins zoológicos, papel e ecrãs, patriotismo, plásticas e rugas, velhos e novos são apenas algumas das propostas a debate.

Os textos são sucintos e objetivos. Apresentam os argumentos baseados em factos, dados ou contextos históricos e sociais. Isso não significa que sejam absolutos, como se constata quando se confrontam as ideias defendidas por ambos os lados. Desta leitura surgem dúvidas e questões que também podem conduzir a pesquisas posteriores de cada leitor, bem como a novos argumentos espoletadores de outros debates. No final do livro (ou no seu início, dependendo da capa que se escolhe), lança-se um desafio: “Quanto mais debates, mais gosto de ti!” Aqui, sugere-se que se debata sobre tudo, o que é muito relevante ou muito comezinho como “Por que motivo é tão irritante aconselhar a uma pessoa que está nervosa que se acalme?” ou “É mesmo verdade que os pais só querem o bem dos filhos, quando passam o tempo a contrariá-los?”. Sem pretender esgotar temas ou assumir um tom moralista ou panfletário, este volume é um contributo simples e sério para a democracia e a educação.