O que vem à rede Sara Figueiredo Costa 25 Maio 2023

Para a história do movimento negro português
O nascimento do movimento negro em Portugal pela voz dos três autores que o investigaram e agora dão a conhecer.

Chegou há pouco às livrarias portuguesas o livro Tribuna Negra – Origens do Movimento Negro em Portugal (1911-1933), de Cristina Roldão, José Augusto Pereira e Pedro Varela, com edição da Tinta da China. No Setenta e Quatro, o jornalista Ricardo Cabral Fernandes entrevista os três autores, dando a conhecer o percurso desse activismo que, na primeira metade do século XX português, se organizou para combater o racismo, criando associações e fundando jornais. Entre lutas e contradições, o livro dos três investigadores olha para o passado, mas nunca perde a ligação com o nosso presente comum, confirmando a importância deste livro para os debates que continuam por fazer na sociedade portuguesa.

Um excerto, na voz de Cristina Roldão: «O racismo, o capitalismo e as questões de género estão profundamente articulados. Esse é um olhar que nós trazemos e, como o José estava a dizer, somos da academia, muito do material e da fórmula tem a ver com a academia, mas é um trabalho que deve muito aos avanços de conhecimento que o movimento social em Portugal, e a nível internacional, tem criado. Não é por acaso que este livro aparece agora e não há 20 anos.

Fazer uma história sobre as pessoas negras, sem sujeitos negros implicados na construção dessa história, é algo que tem de deixar de acontecer na academia portuguesa. Haverá exceções, mas o reconhecimento que precisamos não é o “vamos dar uma oportunidade aos investigadores negros”, ainda que seja importante, mas sim que a academia precisa deles e das suas tradições intelectuais de pensamento para se descolonizar. Há todo um aparato dentro e fora da academia que exclui as pessoas negras da produção de conhecimento académico sobre realidades que são as suas. Precisamos de avançar nesse aspecto. Há grandes dificuldades em, por exemplo, assumir a necessidade de quotas étnico-raciais na academia ou no acesso ao ensino superior.»

→ setentaequatro.pt