
Onde é que nós íamos?,
Sobre a importância e o prazer de conversar
Isabel Minhós Martins
Dina Mendonça
Madalena Matoso
Planeta Tangerina
Dentro da linha editorial de livros informativos do Planeta Tangerina, surge agora este título, dedicado à conversação. Nunca como no momento atual se falou tanto sobre a importância do contacto humano, sobre as relações em presença e sobre a necessidade de conversar como elemento de aproximação, de autoconhecimento, de curiosidade, de respeito pelo outro.

Tal como aconteceu com Plasticus Maritimus sobre a poluição do mar causado pela praga do plástico, com Lá fora sobre a experiência de existir na natureza ou, mais recentemente, com a exploração da criatividade e da imaginação em Como ver coisas invisíveis, a editora investe neste tema uma matriz de intervenção cívica através da problematização muito bem alicerçada em exemplos, factos e experiências subjectivas.
A arte de conversar apresenta-se como uma ação mais complexa e profunda do que a simples troca de informações ou descrições, seja a propósito de que assunto for. Desloca-se da superficialidade para provocar espanto, questionamento, reconhecimento, desconforto. Ao longo de quatro capítulos, o texto debruça-se sobre o que é conversar, porque gostamos de conversar, com que dificuldades podemos deparar-nós nos início ou ao longo de uma conversa, e como o fazemos. Para além de várias interpelações ao leitor que convocam as suas experiências, acrescem dados históricos, referências a outros textos ou pensadores e ainda propostas de exercícios que promovem o sentido crítico de cada um sobre os diversos aspetos da conversa.


Fala-se de Heródoto, da teoria da cesta de Ursula K. Le Guin, do efeito Dunning-Krüger ou dos cafés do império Otomano. Ainda de paragens de autocarro, do robô Sophia, de cartas, de censura e liberdade, de conversas difíceis ou abismos com pessoas de quem gostamos. No último capítulo, há uma lista de atitudes que podem contribuir para boas conversas.
A ilustração funciona como apontamento, síntese ou destaque das ideias principais que se vão desenvolvendo. É um momento de suspensão que também contribui para que o leitor baixe o ritmo da leitura, contemple a imagem, recupere uma ideia própria, coloque uma questão a si mesmo. O fio condutor de todo o livro é o de apresentar a conversa como muito mais do que “conversa fiada”, diálogos superficiais, ou tomadas de posição polarizadas. A conversa é uma oportunidade política para existir em conjunto.