O que vem à rede Sara Figueiredo Costa 24 Março 2025

O que a mesa diz de nós
O último número da revista Análise Social, publicada pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, tem a alimentação como tema central e propõe várias leituras sobre este gesto aparentemente banal – e essencial – de comer.

Ingerir alimentos é coisa que fazemos por absoluta necessidade, naturalmente, mas em torno desta acção que nos mantém vivos (e saudáveis, dependendo do que ingerirmos) muitos outros fios se cruzam. Aquilo que comemos, o modo como o fazemos – como cozinhamos ou não os alimentos, como os preparamos – ou o espaço e o tempo em que partilhamos essa acção com outras pessoas não são meros gestos de sobrevivência. É em torno desses e de vários outros aspectos associados à alimentação que se organiza, neste número 254 (vol. 60) da Análise Social, um dossier temático sobre o assunto.

No artigo que introduz esse dossier, «A alimentação como campo de estudo antropológico», Joana Lucas e Raquel Moreira apresentam assim as várias questões que se cruzam neste tema tão vasto: «Falar de alimentação é falar de uma realidade vasta, complexa e multidimensional que integra dinâmicas sociais que entroncam em diferentes domínios e processos socioculturais. As formas e os ritmos de aprovisionamento alimentar, as técnicas e os processos de conservação dos alimentos, as técnicas e os processos de preparação culinária e as práticas de consumo integram-se em diferentes sistemas e redes de relações sociais e superam o domínio do biológico, tornando-se inteligíveis quando são entendidas como práticas culturais e sociais.» E, mais adiante, prosseguem: «A atenção prestada à alimentação por parte da antropologia pressupõe a análise dos alimentos, dos comportamentos alimentares, das representações simbólicas e de outros aspetos como forma de compreender processos sociais e culturais. Ou seja, mais do que portadores de nutrientes, os alimentos detêm uma carga simbólica e podem ser considerados como instrumentos importantes para estudar uma cultura.»

Para além do texto introdutório, o dossier inclui mais quatro artigos: «Agricultura, território e património: linguagem e práticas alimentares em Chefchaouen (Marrocos)», de Joana Lucas, «Dos pratos sopeiros às caldeiradas ricas para veraneantes. Ascensão e transfiguração do peixe vadio em Sesimbra», de Pedro Pereira da Silva, «Estratégias locais de alimentação: a experiência de Montemor-o-Novo», de Virgínia Henriques Calado, e «A escrita como forma de patrimonialização das gastronomias locais: uma análise dos conteúdos dos websites municipais e de publicações no domínio da alimentação na Área Metropolitana de Lisboa», de Raquel Moreira.

A revista traz outros artigos, já fora da temática do dossier central, abordando temas que vão do futebol ao burnout laboral, entre outros. Como habitualmente, todos os textos podem ser acedidos gratuitamente através da página da Análise Social.

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