Mais uma guerra a ser travada
“A Humanidade não é uma abstracção retórica, é carne sofredora e espírito ansioso, e é também uma inesgotável esperança. A paz é possível se nos mobilizarmos para ela. Nas consciências e nas ruas.”
José Saramago
As bombas, os mísseis, os corpos que sempre marcaram o Médio Oriente, e que nos últimos tempos concentravam a atenção mediática noutras latitudes, hoje caem em números avassaladores na Palestina. As guerras entre a Rússia e a Ucrânia, na Síria ou no Iémen, não acabaram, a destruição, os mortos e a deslocação forçada de pessoas continua, mas agora há uma nova guerra, e ainda mais destruição, mortes e pessoas desamparadas na Faixa de Gaza, atacada por terra, água e ar por Israel.
«É muito mais fácil educar os povos para a guerra do que para a paz. Para educar no espírito bélico basta apelar aos instintos mais baixos. Educar para a paz implica ensinar a reconhecer o outro, a escutar os seus argumentos, a entender as suas limitações, a negociar com ele, a chegar a acordos. Essa dificuldade explica que os pacifistas nunca contem com a força suficiente para ganhar… as guerras», disse certa vez José Saramago.
No século passado, após o terror da Segunda Guerra e a crueldade suprema das câmaras de gás, havia uma esperança de que a humanidade aprendesse com a tragédia e evitasse que cenas como aquelas se repetissem. Mas as gerações que vieram não foram educadas para a paz nem ensinadas nos valores da tolerância e do diálogo. O mundo em 2023 não é um lugar em paz, muito pelo contrário. E o que podemos fazer? «Temos de continuar a manifestarmo-nos, a manifestarmo-nos e a manifestarmo-nos. Não há outra solução senão dizer que não queremos viver num mundo como este, com guerras, com desigualdade, com injustiça, com a humilhação diária de milhões de pessoas que não têm qualquer esperança de que a vida valha alguma coisa», respondeu José Saramago em 2006, numa entrevista ao The Observer. «Temos de exprimir isso com veemência e passar dias nas ruas se assim tiver de ser, até que os que estão no poder reconheçam que o povo não está satisfeito.»
Pelo que se vê nas ruas de muitas cidades pelo mundo, o povo não está satisfeito com as guerras e injustiças que proliferam no planeta. Manifestemo-nos!