Literaturas de Mulheres
Um dossier na Via Atlântica reúne reflexões e debates em torno da literatura de mulheres no espaço luso-afro-brasileiro.
Na mais recente edição da revista Via Atlântica, publicada pelo Programa de Pós-Graduação de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo, há um dossier especial dedicado ao tema «Literaturas de Mulheres: Memórias, Periferias e Resistências no Espaço Luso-Afro-Brasileiro». O projecto de investigação que produziu este dossier inclui investigadores de universidades e centros de investigação científica em Portugal, Brasil, Angola e Moçambique, uma diversidade geográfica que se reflecte nos temas e abordagens dos textos aqui publicados, dedicados à literatura escrita por mulheres no espaço luso-afro-brasileiro.
No texto de abertura do dossier, assinado por Margarida Rendeiro, Rita Chaves, Susan de Oliveira e Teresa Manjate, explicita-se a abordagem transversa que vai marcar os diferentes olhares, análises e reflexões que surgem nos textos seguintes: «Num ato contínuo de resistência literária, à escrita das mulheres tem frequentemente cabido a desconstrução e reconstrução das representações literárias das memórias coletivas, elaboradas de acordo com um ponto de vista masculino hegemônico e assumido como perspetiva de um falso neutro universal, nas quais elas têm figurado como sujeitos excêntricos. Nos vários sistemas literários em que há uma predominância de vozes masculinas, como bem lembram Inocência Mata e Laura Cavalcanti Padilha, via de regra, os textos “submetem-se aos mesmos aparatos de dominação impostos pelas ideologias hegemónicas” (MATA; PADILHA, 2018, p. 13). Contrapondo-se a essa norma, temos observado alguns investimentos que buscam revisitar a história a partir da compreensão do lugar das mulheres e do estudo de sua escrita, detendo-se em questões importantes como faz Eurídice Figueiredo em Por uma crítica feminista (2020).»
Para além do texto de abertura, que contextualiza o dossier, há textos, recensões, entrevistas e artigos diversos assinados por Rogério Max Canedo, Michelle Mittelstedt Devides, José Lindomar da Silva, Susan de Oliveira, Danielle Duque Baracho, Luciana Teixeira Martinez, Inês Nascimento Rodrigues, Luis Carlos Alves de Melo, Ana Raquel Fernandes, Ana Aires e Castro, Alva Martínez Teixeiro, Flávio Silva Corrêa de Mello, Ellen Lima Wassu, Margarida Rendeiro, Federica Lupati, Maristela de Melo Braga, Iara Tatiana Bonin, Noemi Alfieri, Miriane Peregrino, Esperança Madalena Luieca Ferraz. Todos, de modos diferentes e frequentemente dialogantes, contribuem para uma discussão em torno das «representações da memória e pós-memória e dos questionamentos face à definição de cânones literários e diferentes estratégias literárias que resistem à representação das subjetividades masculinas hegemônicas nas narrativas de memória coletiva.», como se lê na introdução.