Estante Andreia Brites 10 Março 2025

Gaspar, com os pés bem assentes na Lua
Rita Taborda Duarte
Sebastião Peixoto
Caminho

Nos seus livros infantojuvenis, Rita Taborda Duarte privilegia dois aspectos: um de caráter linguístico, outro de carácter temático e estilístico. Nesta narrativa, afirma logo na introdução que o texto vai apresentar um vocabulário diverso e menos recorrente no uso comum. Assim acontece na prosa que se segue, com vocábulos assinalados com uma lua em quarto crescente. A escolha do símbolo não é aleatória: Gaspar, o protagonista, é um menino preocupado com a Lua, que acredita ser uma entidade perigosa, que aliena os pensamentos das pessoas sem que elas disso se apercebam. 
Esse é o outro aspeto que marca a escrita da autora: a exploração do absurdo ao serviço de ideias e valores como os da solidariedade e da identidade (Manel e o Miúfa, o medo medricas) ou da liberdade, como acontece neste livro.
Gaspar tenta que os adultos prestem atenção aos seus temores, que o levem a sério, ao provar, também recorrendo ao uso da língua, o poder da Lua. 
RIta Taborda Duarte privilegia uma estrutura mais argumentativa do que propriamente de progressão da ação, usando metáforas, comparações, antíteses que convocam o humor e uma perspetiva questionadora sobre a palavra, os seus sentidos e a sua relação com o que somos, pensamos e comunicamos. Abundam sobretudo as descrições e os diálogos entre a criança e a mãe, o professor ou a avó. 
No final, a conclusão surpreende quando baralha tudo e volta a dar, em defesa da imaginação e da liberdade de pensar e ser. 

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