Em 2025, força!
Há poetas que dizem que devem escrever no ar para dessa forma conduzir o tempo, também algumas dactilógrafas nos sentimos tentadas a juntar letras e lançá-las pela janela fora para ver o que acontece. Porque, se não gritamos através do teclado ou na rua, que outra coisa podemos fazer quando vemos que o planeta nos está escapando das mãos? Esta pergunta não é retórica, surge ao ver o número de imigrantes que morrem no mesmo mar em que nos banhamos no verão, ante as bombas que o Estado de Israel dispara sobre hospitais palestinos porque ali “estão escondidos terroristas”, contemplando o que acontece na Síria ou no Yemen, ou agora em Moçambique, que vive na fronteira da violência total, essa que destrói hoje para reconstruir amanhã, já sem a gente que não pode consumir, esses homens e mulheres que tanto incomodam porque acham que o pão e a água são grátis e que têm o direito de respirar sem terem feito nada além de nascer.
O ano de 2025 apresenta-se perigoso. O “amigo” Trump não distribui doces, vem com ameaças e muita sanha. “Tanto excesso deve ser sinal de algo”, comentam alguns observadores, “mandar disparar tantas bombas de reluzente formato fálico não é sinal de boa saúde”. E é verdade, não há ternura, poesia ou amor no olhar daqueles que dão ordem para disparar, embora disso pouco se fale porque, no fundo, temos medo. Sim, sentimos que valemos menos do que de facto valemos, que o mundo sem nós seria igual, que nos expomos dizendo em voz alta os nossos sonhos e que, no final das contas, essa exposição não vale para nada. Ou sim, e se fôssemos milhões de pessoas interceptando, não as bombas que perseguem os palestinos, mas os lugares onde elas são pensadas e construídas? Há de haver um mapa das fábricas de armas espalhadas pelo mundo, o negócio mais florescente do momento não se faz nos porões dos hospitais de Gaza. Essas fábricas serão como as das naves especiais, com centenas de engenheiros vestidos de branco trabalhando felizes ao cumprirem o objetivo, que neste caso é o de matar, matar muito e bem. E rematar com drones quando alguém insiste em ficar vivo. Sim, o mapa das fábricas de armas existe, o que acontece é que está guardado como o mapa do tesouro, mas há que encontrá-lo para que possamos cercar essas empresas com testemunhos vivos, e depois ver os seus livros de contabilidade, os movimentos financeiros gerados pelo negócio da guerra, brilhante para algumas economias e sinal de ruína para outras. Também para vermos o papel principal que os impulsionadores das fábricas outorgam ao conceito “pátrias” e a falta de interesse pela agonia quase invisível de tantas pessoas.
Conta-se que a atividade que move economias, governos e meios de comunicação é a fábrica de conflitos. Antes que as armas entrem nos fornos já está em marcha a muito poderosa fábrica de conflitos, ou seja, a criação de inimigos, fronteiras, ameaças religiosas, raciais e económicas, todas sem limite. Nem se espera que um conflito acabe para gerar outro, os múltiplos rendimentos da fabricação, venda e distribuição de armas pelo mundo não podem parar, nem o ritmo das bolsas, os movimentos financeiros multinacionais e pluricontinentais, por isso precisam de repetir até à exaustão a mensagem de que fabricam armas para que possamos defender-nos dos inimigos. Não dizem que são eles mesmo que fabricam os inimigos necessários para que o negócio prospere. Querem que acreditemos que matar é um dever humano.
Nós, seres humanos, temos desejos, consciência, sonhos e até uma boa porção de massa cinzenta no cérebro. E rebeldia, por isso podemos exigir paz na Terra, e isso não é uma quimera, é a exigência que fazemos a nós mesmos em outras interações sociais em que a guerra não é senhora, e a ambição e a hipocrisia não são o senhor. Esse modelo não é conveniente ao planeta, queremos outro que faça da Terra um arquipélago com ilhas maiores e menores, vizinhos mais próximos ou mais distantes, todos iguais num íntimo desejo de felicidade e companhia. E, claro, que a indústria prospere, não a da morte e sim a das máquinas de lavar que funcionem até sem água e luz, e que mantenham alimentos no deserto, e que o pão com manteiga seja o pequeno almoço universal, e que as ruas sirvam para que as crianças brinquem – e não só para que carros passem em alta velocidade, não há que andar tão depressa se o amor está seguro e nos espera.
Não podemos aceitar que pessoas morram antes do tempo, vítimas de conflitos armados. E que poderes maléficos e bem disfarçados ordenem, de forma criminosa e absurda, que odiemos e aniquilemos quem não conhecemos. Muita força, leitoras e leitores, para o caso de que tenhamos que parar as máquinas e usar a nossa esplêndida e humana voz, aperfeiçoada ao longo do tempo para negociar e resolver problemas, não para triturar pessoas. Há motivo para não desistir do ser humano, força!