Direitos LGBT+ são direitos humanos
Uma reportagem sobre a ameaça aos direitos das pessoas LGBT+ protagonizada pelo governo húngaro e o seu papel no contexto mais vasto de uma Europa que ameaça deixar desmoronar os direitos humanos.
Governada por Viktor Orban, a Hungria tem assistido a uma escalada contra os direitos humanos por parte dos seus legisladores. Nos últimos meses, a comunidade LGBT+ foi o alvo mais recorrente dessa escalada, primeiro com a retirada do direito à escolha do nome e do género nos documentos oficiais para as pessoas trans, depois com a adopção a ser um direito exclusivo de casais heterossexuais, agora com uma lei que proíbe aquilo que o governo apelida de “propaganda LGBT” junto dos menores de idade, e que implica a censura de qualquer conteúdo que refira outras formas de viver a identidade, o género e a sexualidade que não sejam aquela que se considera padrão. No jornal em língua portuguesa Contacto, do Luxemburgo, uma reportagem de Ricardo J. Rodrigues (texto) e Rick Tonizzo (fotografias) dá conta desta ameaça crescente aos direitos humanos, contextualizando-a numa Europa que se vai vendo dividida entre posições discriminatórias semelhantes e a vontade de continuar a desenvolver uma herança humanista na qual terá as suas fundações: «Depois do Brexit, o dilema europeu parece ter na capital húngara o seu novo epicentro. A aprovação da Lei de Proteção de Menores em junho pelo governo de Viktor Orbán foi a gota de água para associações de direitos humanos e países-membros da União Europeia levantarem a voz. “O partido Fidesz mantém-se há 11 anos no poder com um discurso de nós contra eles. Vai escolhendo os inimigos do povo e faz deles os seus alvos. Fê-lo com os ciganos, com os refugiados e agora com a comunidade LGBT”, diz David Vig, diretor da Amnistia Internacional na Hungria.»
No dia 24 de Julho, uma enorme manifestação saiu à rua em Budapeste para assinalar o Dia do Orgulho, data que tem as suas raízes na revolta de Stonewall, em 1969, nos Estados Unidos da América, e a partir da qual se foi construindo uma noção de que a orientação e a identidade sexuais fazem parte daquilo que somos e não têm de ser escondidas. A reportagem acompanha essa manifestação, recolhendo histórias de pessoas de diferentes idades que enfrentam, agora, uma ameaça nunca antes experimentada: «No último sábado, as ruas da capital encheram-se: o dia do Orgulho Gay juntou 30 mil pessoas e foi mais protesto do que celebração. Ao longo do percurso, grupos neonazis insultavam quem passava envergando bandeiras da Hungria e cruzes cristãs. Budapeste tornou-se no campo de batalha ideológico para duas visões da Europa. E as histórias que os seus habitantes contam dão bem para perceber a cisão que cresce no continente. As palavras de Eszter Bagyina, bailarina de cha-cha-cha, ficam a retinir na cabeça: “Para quem cresceu no leste, o início da Europa com que sonhávamos era Budapeste. E agora parece ser aqui que ela acaba.”»