De um coração em formol não virá o futuro
A crónica de Julián Fuks, numa altura em que um coração preservado se exibe em exposição no Brasil e as próximas eleições fazem tremer quem prefere o músculo cardíaco a bater bem vivo.

Na sua coluna de opinião no site UOL, o escritor brasileiro Julián Fuks assina um texto que parte da bizarra viagem para o Brasil do coração de D. Pedro conservado em formol para reflectir sobre o Brasil de hoje, as suas heranças colonial, esclavagista e opressiva, e os caminhos possíveis para sair de uma crise que há muito deixou de ser apenas económica. Um excerto:

«Precisa-se de um terrorista que compreenda bem o presente, que perceba que a fúria que hoje vemos também é feita da sanha de perpetuar privilégios, quase os mesmos a atravessar os séculos sem trégua. Que perceba a repetição dos discursos, do desejo de continuar a explorar e destruir os trabalhadores e a terra, que note quanto o racismo de hoje ecoa os horrores do escravismo longevo, quanto toda discriminação ainda provém desse projeto de país tacanho e cruel. Que perceba também que agora se repete o desejo de permanência forçada no poder, a mesma ideia de que um homem messiânico deveria continuar a imperar, contra a vontade das gentes.»

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