Cinco ratinhos
Maria Girón
Kalandraka
Tradução de Àlex Tarradellas e Rita Custódio
Neste álbum para a primeira infância nada é deixado ao acaso. Uma aventura de cinco ratinhos em busca do lanche é o mote para uma leitura que, na sua simplicidade, convida ao desenvolvimento de processos de compreensão leitora. A estrutura narrativa obedece à enumeração repetitiva e aditiva, que recentra o foco do leitor a cada novo acontecimento. Primeiro, introduz-se a comida e retira-se, na contagem dos cinco ratinhos, elemento a elemento, até restar apenas Félix, o afoito protagonista. Depois do clímax da ação, quando Félix descobre que está no estômago do gato em busca do queijo, o processo inverte-se e, um a um, os cinco primos vão regressando à toca.
Para que a estrutura funcione, recorre-se a um percurso, como acontece, por exemplo, no álbum Vamos à caça do urso (Michael Rosen, Helen Oxenbury, Caminho), um clássico no universo dos álbuns ilustrados. Aqui, a cadência não é marcada pelas onomatopeias e sim pelos lugares onde cada rato fica e de onde regressa. O movimento decrescente inverte-se na segunda metade da narrativa para seguir agora uma previsível lógica crescente. Pelo caminho há a exploração visual do espaço, desde a galeria subterrânea onde vivem os ratos e que alberga vários objetos, ao chão da casa onde outros objetos a caracterizam. A perspetiva escolhida pela ilustração compõe, em grande plano, a rota dos ratinhos, mantendo elementos reconhecíveis nos momentos de ida e de regresso mas sem replicar os ângulos das duas fases da história: vemos a toca, o chão da casa, a mesa de refeições. A exploração da imagem permite verificar a informação do texto: reconhecer os ratos e os alimentos num espaço familiar de uma casa habitada por humanos.
No final, a ratinha que tinha ficado na toca por causa de um rebuçado pergunta aos primos o que aconteceu na expedição em busca do lanche. Félix responde resumindo o que tinham conseguido recolher, sem esquecer a perseguição do gato. Aqui, através do diálogo, recupera-se e resume-se o essencial da narrativa, explicitando-se assim o que merece destaque, por outras palavras, as ideias principais. O narrador acrescenta um novo dado: o nome de cada ratinho. Agora, é a vez de se brincar com os sons, já que todos os nomes começam pela letra F. Simultaneamente, esta informação serve para confirmar a contagem: cinco nomes, cinco ratinhos. E um final feliz.