Saramaguiana
por António Guterres 16 Março 2022
© Arquivo FJS

António Guterres: «Um retrato da história universal do último século»

«Saramago, os seus nomes», álbum biográfico de autoria de Alejandro García Schnetzer e Ricardo Viel, com projeto gráfico de Raul Loureiro, chega às livrarias espanholas este mês pelo selo Alfaguara – em breve será publicado em Portugal. O prólogo do livro é do atual secretário-geral da Nações Unidas, António Guterres. A Blimunda antecipa em primeira mão o texto que o ex-Primeiro-Ministro de Portugal escreveu para «Saramago, os seus nomes».

Fotobiografia José Saramago

Uma fotobiografia de José Saramago é, por condição necessária, também um retrato da história universal do último século – dos momentos, dos autores, das correntes de pensamento, dos debates que ainda nos moldam, tanto aos que fomos seus contemporâneos como àqueles que lhe sucedem. É uma publicação que adquire particular simbolismo no momento em que se celebra o centenário do nascimento de José Saramago, mas que se reveste de valor intemporal.

História universal, com efeito, pela universalidade dos interesses, da curiosidade, do trabalho, do talento e do reconhecimento tão justamente granjeado por José Saramago. Guardo com enorme satisfação a memória da circunstância feliz de a atribuição do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago, em 1998, ter ocorrido enquanto me cabia desempenhar as funções de Primeiro-Ministro de Portugal.

O contributo de José Saramago para a afirmação do valor universal da língua portuguesa perdurará muito para além do seu centenário – e a sua obra, como todo o percurso que esta fotobiografia tão bem documenta, continuará no futuro a questionar-nos, a desinquietar-nos e a compelir-nos a tentar seguir aquilo que sempre logrou fazer com inigualável mestria: observar detalhadamente a realidade a partir de uma ampla mundividência.

É importante continuar a revisitar a consciência ética presente na obra de José Saramago. Essa consciência mantém, hoje, a sua acuidade, tanto na condenação da exclusão e das desigualdades como na importante mensagem sobre a necessidade de “reivindicarmos o dever” de defender e fazer cumprir os direitos que a todos e cada um são conferidos. Esta fotobiografia contribuirá, confio, para que mais leitores relembrem ou descubram a exortação a que “os cidadãos comuns tomem a palavra e a iniciativa” – e não prescindam nunca desse direito.

António Guterres