O que vem à rede Sara Figueiredo Costa 17 Novembro 2025

A voz de quem vive na floresta
Uma breve entrevista com o cacique do povo Kayapó ajuda a enquadrar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e a equilibrar esperança com decisões políticas.

Até ao próximo dia 17 de Novembro, decorre em em Belém, no Brasil, a COP 30, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Percorrendo as resoluções das últimas Conferências do género e olhando para as medidas que realmente foram implementadas, percebe-se que os líderes dos governos mundiais, particularmente os dos países com maior capacidade financeira, pouco ou nada têm feito, ainda que não abdiquem de estar presentes nestes encontros e de tomar a palavra sobre a emergência climática.

© Edgar Kanayko Xakriaba
© Simone Giovine
Tomtu and Nzoikamrekti Kayapó reading a draft of the constitution in 1987, Instituto Socio-Ambiental

Depois de tantas entrevistas com responsáveis governamentais com pouca ou nenhuma concretização no que às políticas anunciadas diz respeito, vale a pena ler outras palavras. Raoni Mẽtyktire, cacique do povo Kayapó (também conhecido como Mẽbêngôkre), é uma das vozes indígenas mais relevantes e respeitadas nestes tempos em que o despautério parece ser o único guia de quem decide e aplica as políticas energéticas, extractivistas e neo-liberais. Em entrevista à Sumaúma, conduzida por Jonathan Watts e Lorena de Paula, Raoni fala sobretudo sobre a protecção da floresta amazónica e sobre a demarcação de terras indígenas, mas o pragmatismo com que se refere ao que precisa de ser feito é exemplar de como a complexificação artificial de quase todos os debates sobre o futuro do planeta acaba por omitir aquilo que é bastante simples: ou mudamos o rumo da produção, do consumo e da extracção, ou não haverá futuro. Ainda assim, Raoni  Mẽtyktire tem esperança nesse futuro, o que talvez seja exemplo maior por entre a desesperança que acabamos por consumir juntamente com os plásticos, o petróleo e os minerais raros:

«Eu acho que o primeiro encontro da COP na Amazônia pode ajudar a Floresta. Não tivemos uma oportunidade como essa antes. Podemos falar sobre o que está acontecendo, de destruição, desmatamento. E eu estou aqui muito feliz, contente, com essa oportunidade que é importante para todos nós, de poder falar, de poder gritar, para que as autoridades possam nos ouvir. É importante para nós.»

→ sumauma.com