O que vem à rede Sara Figueiredo Costa 21 Julho 2025

A PIDE em Moçambique
Um longo trabalho de investigação jornalística de Maria José Oliveira dá a conhecer a actuação da PIDE/DGS em Moçambique, apesar dos esforços dos envolvidos na tentativa de fazer desaparecer os testemunhos dessa actuação.

«Em 1974, o Exército criou uma Comissão de Verdade para investigar os crimes da PIDE/DGS. Recolheu milhares de provas de violações dos direitos humanos. Esta documentação estava perdida há mais de 30 anos na Torre do Tombo.»  É a partir desta documentação de algum modo esquecida que a jornalista Maria José Oliveira inicia o trabalho de investigação que conduziu a uma série de reportagens e podcasts que podem conhecer-se no site do jornal Público, tudo a partir da abertura de uma das muitas caixas de documentação, aberta pelo arquivista Paulo Tremoceiro, ponto de arranque deste trabalho: «Em Vila Cabral, Nampula e Montepuez, como também em Quelimane, Beira, Tete ou Maputo, instalados em quartéis ou nos antigos edifícios da PIDE (como a “Vila Algarve”, delegação na capital), dezenas de militares começaram em finais de Maio de 1974 a trabalhar exclusivamente na “Comissão de apuramento de responsabilidades criminais de elementos da extinta PIDE/DGS” (aparentemente não existia uma única designação para este organismo, existindo documentos em que surge também como “Comissão para a investigação das queixas contra elementos da ex-DGS” ou “Comissão de Saneamento e Investigação”).»

Com o título PIDE/DGS em Moçambique, este trabalho tem vindo a ser disponibilizado à razão de um episódio por semana na edição digital do jornal, bem como em várias plataformas de escuta de podcasts, acompanhado da respectiva versão em reportagem escrita nas páginas do Público. Os textos escritos são de Maria José Oliveira e nos podcasts a equipa cresce, com Ruben Martins assinando o guião, as entrevistas e a narração, Daniel Leitão assegurando a sonoplastia e Inês Rocha fazendo a revisão de texto. Ainda sem conclusão, e com o ritmo de publicação a estender-se até 3 de Agosto, não é cedo para afirmar que este trabalho é fundamental para se conhecer a actuação do Estado português, através da sua polícia política, numa dos territórios colonizados por Portugal, mas também para dar a compreender o tanto que ainda há por estudar em arquivos vários e, até, em documentação dispersa que ainda aguarda classificação.

O que ficamos a conhecer sobre a actuação da PIDE/DGS em Moçambique é aterrador e, ainda que possa não surpreender quem tenha consciência da brutalidade deste orgão do Estado português em tempos coloniais, a especificidade das perseguições, das conivências, do modus operandi e dos métodos de tortura, bem como da urgência em tudo esconder assim que se dá o 25 de Abril, são revelações que até agora estavam ocultadas pelo tempo e pelo pó dos arquivos. Agora, vão sendo desvendadas todas as semanas, podemos lê-las e escutá-las devidamente contextualizadas, pelo que importa não voltar a deixá-las cair no esquecimento.

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