Epígrafe
José Saramago

No Arts Council, em Londres, apresentam-me de surpresa um grande bolo branco com palavras de chocolate e erros de ortografia: «Parabens señor Saramago.» O «parabéns a você» (que sempre detestei) é cantado por doze vozes e em três versões: a luso-brasileira, a moçambicana e a inglesa… Ray-Güde, que veio ontem de Frankfurt para estar connosco (outra feliz surpresa), deve ter achado conveniente não cantar em alemão. Quando apaguei a única vela que havia no bolo, descobri que afinal eram setenta e duas. Tantas. Agradeci como pude, Giovanni traduziu para os ingleses (com o que o discurso ganhou em coerência), parti o bolo como me competia. Depois, como ninguém se decidia, Pilar tomou a iniciativa de distribuir as fatias. Bebemos à saúde uns dos outros.

Cadernos de Lanzarote – 16 de novembro de 1994