Um prémio para Paulina Chiziane, um orgulho para a literatura moçambicana
Com mais de dez romances publicados, a que se juntam os contos que começou a publicar na imprensa em 1984 e vários outros textos dispersos, a escritora moçambicana Paulina Chiziane foi surpreendida pela atribuição do Prémio Camões 2021.
Foi ontem anunciado o Prémio Camões 2021 e a distinção coube à escritora moçambicana Paulina Chiziane. Num artigo publicado no jornal O País, de Moçambique, José dos Remédios descreve a reacção da autora no momento em que soube que o prémio era seu e as reacções que se seguiram: «De repente, o telemóvel iPhone da escritora toca. “– Alô, boa tarde. Aqui é fulano. Ligo para informar à senhora que é a nova Prémio Camões”. Paulina quase entra em êxtase. Não acredita, duvida, questiona, olha ao redor, eventualmente para localizar uma outra Paulina. Nada. Naquele quintal enorme do Bairro Albasine, há apenas uma Paulina, e é ela. “– O senhor tem a certeza de que sou eu?”. Esta foi mais ou menos a pergunta. E o senhor, com sotaque português, confirmou que sim. E o dia não foi mais como os outros. Na verdade, nem o dia e nem tudo o resto.» Autora de vários contos e romances, entre eles Balada de Amor ao Vento e Niketche: Uma História de Poligamia, aquela que foi a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique acabou por acreditar que, sim, era ela a vencedora do Prémio Camões deste ano. E sem afastar o reconhecimento e a alegria pela decisão do júri, manteve o seu compromisso com aquilo que mais lhe importa, a escrita: «Paulina não escondeu que gostou do prémio e que está muito feliz. Mas esclareceu: “Quando a gente trabalha, nunca deve pensar em prémios. Eu nunca dei importância nenhuma a isso. Eu faço o que quero, o que penso no momento, aquilo que me emociona, que me decepciona ou que me alegra. Produzo algo, coloco no mercado, e nem sempre a reacção é boa. Mas penso que um dia vão me perceber. Eu faço literatura porque quero, gosto, me apetece e sinto que tenho capacidade para fazer”.»